O Papa Francisco deve
publicar pelo menos dois documentos extremamente importantes nos primeiros meses de 2020.
O primeiro destes textos é uma exortação
apostólica com base na mais recente assembleia especial do Sínodo
dos Bispos para a Região Pan-amazônica, ocorrida em outubro
passado. Francisco já
deu a entender que endossará uma série de mudanças
na prática pastoral a ele propostas pelos participantes do evento.
Uma dessas alterações é a ordenação sacerdotal dos viri
probati (homens casados de virtude comprovada),
especificamente aqueles que já são diáconos
permanentes. Uma outra é o estabelecimento de uma nova
comissão papal para estudar a possibilidade de se instituir o
diaconato e outros ministérios para as
mulheres. E uma terceira mudança é a compilação de um novo
rito litúrgico para incorporar elementos culturais particulares aos
povos nativos amazônicos.
É provável que esta aguardada exortação
apostólica pós-sinodal abra outros espaços de reforma também.
Portanto, não devemos subestimar a sua relevância.
Como já dito, a assembleia
sinodal ocorrida entre os dias 6 e 27 de outubro passado
no Vaticano marcou
um ponto de inflexão para o surgimento de uma Igreja verdadeiramente global. É
uma Igreja que ainda luta para se libertar dos elementos residuais da era tridentina (especialmente
o clericalismo) que
continuam sendo um obstáculo à implementação plena dos ensinamentos e da visão
do Concílio Vaticano II
(1962-1965).
Analistas acreditam que a exortação por vir será publicada
na segunda quinzena de janeiro.
Praedicate Evangelium
O segundo grande documento que o Papa
Francisco publicará em 2020 é a constituição da estrutura
reformada e do papel dos departamentos (dicastérios) centrais da Igreja,
conhecidos como a Cúria Romana.
O rascunho final desta constituição, chamada Praedicate
Evangelium, está sendo trabalhado para incluir as sugestões submetidas
por conferências episcopais, outros líderes eclesiásticos e teólogos. A versão
finalizada deverá conter itens que não estiveram nos rascunhos anteriores
compilados pelo Conselho dos Cardeais (antes
formado por nove membros, hoje por seis) em consulta às autoridades da Cúria.
Quase todos concordam que a reforma da Cúria
Romana é um dos maiores projetos e principais objetivos do
pontificado de Francisco. Lenta e pacientemente, o papa argentino vem
conduzindo este processo de reforma. Em
um discurso importante proferido
pouco antes do Natal aos membros da Cúria, ele assim falou:
“Hoje, abordando o tema da mudança que se baseia
principalmente na fidelidade ao depositum fidei e à Tradição, desejo voltar à
implementação da reforma da Cúria Romana, reiterando que esta reforma nunca
teve a presunção de proceder como se nada tivesse existido antes; pelo
contrário, procurou-se valorizar quanto de bom se fez na complexa história da
Cúria. É uma obrigação valorizar a sua história para construir um futuro que
tenha bases sólidas, que tenha raízes e por isso possa ser fecundo. Fazer apelo
à memória não significa ancorar-se na autoconservação, mas recordar a vida e a
vitalidade dum percurso em desenvolvimento contínuo. A memória não é estática,
mas dinâmica. Por sua natureza, implica movimento. E a tradição não é estática,
é dinâmica, como dizia aquele grande homem [G. Mahler]: a tradição é a garantia
do futuro e não a custódia das cinzas”. Pt
Alguns analistas do Vaticano dizem
que o texto de Praedicate Evangelium será
lançado em 22 de fevereiro, dia da Cátedra de São Pedro. Mas independentemente
de quando for publicada, a nova
constituição da Cúria Romana será o ato de governo mais
significativo até então neste pontificado.