quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

O sínodo pavimenta o caminho à reforma


O Papa Francisco deve publicar pelo menos dois documentos extremamente importantes nos primeiros meses de 2020.

O primeiro destes textos é uma exortação apostólica com base na mais recente assembleia especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-amazônica, ocorrida em outubro passado. Francisco já deu a entender que endossará uma série de mudanças na prática pastoral a ele propostas pelos participantes do evento.

Uma dessas alterações é a ordenação sacerdotal dos viri probati (homens casados de virtude comprovada), especificamente aqueles que já são diáconos permanentes. Uma outra é o estabelecimento de uma nova comissão papal para estudar a possibilidade de se instituir o diaconato e outros ministérios para as mulheres. E uma terceira mudança é a compilação de um novo rito litúrgico para incorporar elementos culturais particulares aos povos nativos amazônicos.

É provável que esta aguardada exortação apostólica pós-sinodal abra outros espaços de reforma também. Portanto, não devemos subestimar a sua relevância.
Como já dito, a assembleia sinodal ocorrida entre os dias 6 e 27 de outubro passado no Vaticano marcou um ponto de inflexão para o surgimento de uma Igreja verdadeiramente global. É uma Igreja que ainda luta para se libertar dos elementos residuais da era tridentina (especialmente o clericalismo) que continuam sendo um obstáculo à implementação plena dos ensinamentos e da visão do Concílio Vaticano II (1962-1965).
Analistas acreditam que a exortação por vir será publicada na segunda quinzena de janeiro.

Praedicate Evangelium
O segundo grande documento que o Papa Francisco publicará em 2020 é a constituição da estrutura reformada e do papel dos departamentos (dicastérios) centrais da Igreja, conhecidos como a Cúria Romana.
O rascunho final desta constituição, chamada Praedicate Evangelium, está sendo trabalhado para incluir as sugestões submetidas por conferências episcopais, outros líderes eclesiásticos e teólogos. A versão finalizada deverá conter itens que não estiveram nos rascunhos anteriores compilados pelo Conselho dos Cardeais (antes formado por nove membros, hoje por seis) em consulta às autoridades da Cúria.
Quase todos concordam que a reforma da Cúria Romana é um dos maiores projetos e principais objetivos do pontificado de Francisco. Lenta e pacientemente, o papa argentino vem conduzindo este processo de reforma. Em um discurso importante proferido pouco antes do Natal aos membros da Cúria, ele assim falou:
“Hoje, abordando o tema da mudança que se baseia principalmente na fidelidade ao depositum fidei e à Tradição, desejo voltar à implementação da reforma da Cúria Romana, reiterando que esta reforma nunca teve a presunção de proceder como se nada tivesse existido antes; pelo contrário, procurou-se valorizar quanto de bom se fez na complexa história da Cúria. É uma obrigação valorizar a sua história para construir um futuro que tenha bases sólidas, que tenha raízes e por isso possa ser fecundo. Fazer apelo à memória não significa ancorar-se na autoconservação, mas recordar a vida e a vitalidade dum percurso em desenvolvimento contínuo. A memória não é estática, mas dinâmica. Por sua natureza, implica movimento. E a tradição não é estática, é dinâmica, como dizia aquele grande homem [G. Mahler]: a tradição é a garantia do futuro e não a custódia das cinzas”. Pt

Alguns analistas do Vaticano dizem que o texto de Praedicate Evangelium será lançado em 22 de fevereiro, dia da Cátedra de São Pedro. Mas independentemente de quando for publicada, a nova constituição da Cúria Romana será o ato de governo mais significativo até então neste pontificado.