Todos os povos e civilizações possuem suas lendas e seus
mitos, e não poderia ser diferente com os habitantes do Brasil antes da
colonização. Havia entre as diversas tribos, muitos mitos, lendas e crendices,
fato que é interessante de se estudar, pois explica muito do que permanece na
cultura e folclore do Brasil.
O povo Tupi-Guarani acreditava
em um deus supremo, que chamavam de deus do trovão e o denominavam “TUPÔ. Os
índios acreditavam que a voz deste ente supremo podia ser ouvida durante as
tempestades. O trovão eles chamavam de “Tupa-cinunga” e seu reflexo luminoso de
“Tupãberaba” (relâmpago). Eles acreditavam que este era o deus da criação, o
deus da luz, e sua morada seria o sol.
Acreditavam também em um deus do sol (Guaraci) e em uma
deusa da lua (Jaci). O deus do sol seria o criador de todos os seres vivos
(devido ao sol ser importante nos processos biológicos na natureza) e Jaci
seria a rainha da noite e dos homens. Segundo a lenda, ela teria sido esposa de
Tupã.
Além destes, havia a crença em outos deuses, tais como:
Anhum, o deus da música, que tocava o sacro Taré.
Rudá, o deus do amor, e Tambatajá, um deus de amor
protetor de todos os perigos;
Caupé, a deusa da beleza;
Caramuru, o deus dragão, era ele quem ordenava as grandes
ondas e revoltas dos oceanos.
Polo, o deus dos ventos, que seria o mensageiro de Tupã;
Sumá, a deusa da agricultura;
Jurará-Açu, a única deusa que podia entrar e
sair livremente dos infernos, pois havia libertado o deus infernal. Ela teria
sido castigada por Tupã, e transformada em uma tartaruga.
Além destes, havia diversos outros que até hoje são
conhecidas figuras dos folclores e das lendas brasileiras, como Caapora
(deus guardião dos animais), Tiriricas (deusas do ódio), Pirarucu
(deus do mal, que mora no fundo das águas), Yara (deusa dos
lagos), Curupira (protetor das matas) e Araci (deusa da
aurora e das madrugadas).
A maioria destas crenças eram baseadas na observação da
natureza e do céu. Os índios tinham astronomia própria e definiam o tempo da
colheita, a duração das marés, o tempo das chuvas e através da observação do
céu criavam histórias, mitos, lendas com ensinamentos morais, etc. Esta
atividade de astronomia também serviu para que os índios determinassem muitas
regras a respeito de suas atividades de caça, pesca e agricultura. Observaram
também fenômenos como as fases da lua e as estações do ano.
Existiam, consequentemente, diversas lendas ou mitos,
relacionando estes deuses e a criação do mundo e o comportamento da natureza.
Os índios procuravam explicar o que observavam através destas lendas. Vejamos
três delas:
Mito da Criação - Tupã, com a ajuda da deusa
Araci, haveria descido à terra em um monte da região do Aregúa (Paraguai) e
deste local, haveria criado tudo que existe (mares, florestas, animais, etc) e
colocado as estrelas no céu.
Mito dos Primeiros Humanos - Os
primeiros humanos criados por Tupã teriam sido Rupave (O pai dos povos) e
Sypave (a mãe dos povos) e estes teriam dado origem a um grande número de
filhas e a três filhos, chamados Tumé Arandú (o sábio), Marangatu (o líder
generoso) e Japeusá (mentiroso), este último era ladrão e trapaceiro e teria se
suicidado, porém foi ressuscitado como um caranguejo, e deste então todos os
caranguejos foram amaldiçoados para andar para trás como Japeusá.
Mito da criação da Noite - Segundo
esta lenda, nas aldeias de todo o mundo, era sempre dia, e os índios nunca
paravam de caçar, e as mulheres de limpar e cozinhar. O sol ia do leste ao
oeste e depois fazia o caminho contrário, do oeste ao leste, sempre sem nunca
desaparecer. Um dia, porém, quando Tupã havia saído para caçar, um homem tocou
no frágil Sol para saber como funciona, e o Sol se quebrou em mil pedaços. A
partir de então, as trevas reinaram nas aldeias. Tupã, então, inconformado,
recriou o Sol, mas este não voltava mais do oeste para o Leste, então Tupã
criou a Lua e as estrelas para iluminar a noite.
Tupã e Jaci aconselharam os seres humanos a se reproduzirem
e viverem em paz e amor. Tupã criou os espíritos do bem e do mal, Angatupyry e
Tau, e os deixou na terra para guiarem as pessoas para um dos 2 caminhos. Após
isso, ele retornou aos céus.
Nhanderuvuçu
Nhanderuvuçu é uma divindade da linha dos Deuses Nativos.
Cultuado como uma energia primordial entre os indígenas, uma divindade que se
sobressai, o Sol, senhor da criação, tendo originado o homem através de
estatuas de argila, dentro das quais soprou o fôlego da vida.
Ele não tem forma definida, mas apresenta-se como um pai
bondoso, e os bons e honrados morarão com ele no céu, tornado-se estrelas. Seu
mensageiro e representante entre os homens é Tupã, que manifesta-se como um
homem cujo corpo é feito de trovão, cuja velocidade não pode ser medida e cuja
autoridade lhe permite mergulhar até mesmo no Rio Negro. Nhanderuvuçu é
caracterizado por uma flauta em pé, e suas áreas de atuação são: criação, sol,
bondade e justiça
Conhecido também como Nhamandú, Yamandú ou Nhandejara, é
considerado como o deus supremo da mitologia tupi-guarani. Nhanderuvuçu não tem
uma forma antropomórfica, pois é a energia que existe, sempre existiu e
existirá para sempre, portanto Nhanderuvuçú existe antes mesmo de existir o
Universo. No princípio ele destruiu tudo que existia e depois criou a alma, que
na língua tupi-guarani se chama "Anhang" ou "añã";
"gwea" significa velho(a); portanto anhangüera "añã'gwea"
significa alma antiga. Nhanderuvuçú criou as duas almas e, das duas almas (+) e
(-) surgiu "anhandeci" a matéria. Depois ele desejou lagos, neblina,
cerração e rios. Para tudo isso, ele criou Iara, a deusa dos lagos. Depois
criou Tupã que é quem controla o clima, o tempo e o vento, Tupã manifesta-se
com os raios, trovões, relâmpagos, ventos e tempestades, é Tupã quem empurra as
nuvens pelo céu. Nhanderuvuçú criou também Caaporã (Caipora) o protetor das
matas por si só nascidas, e protetor dos animais que vivem nas florestas, nos
campos, nos rios, nos oceanos, enfim o protetor de todos os seres vivos.
Iara
Deusa das águas, também conhecida como Uiara, ela é vista
como uma linda sereia que vive nas profundezas do rio Amazonas, de pele parda,
cabelos verdes longos e olhos castanhos.
A Iara é uma lenda do folclore brasileiro. Ela é uma linda
sereia que vive no rio Amazonas, sua pele é morena, possui cabelos longos,
negros e olhos castanhos.
A Iara costuma tomar banho nos rios e cantar uma melodia
irresistível, desta forma os homens que a veem não conseguem resistir aos seus
desejos e pulam dentro do rio. Ela tem o poder de cegar quem a admira e levar
para o fundo do rio qualquer homem com o qual ela desejar se casar.
Os índios acreditam tanto no poder da Iara que evitam passar
perto dos lagos ao entardecer.
Segundo a lenda, Iara era uma índia guerreira, a melhor da
tribo, e recebia muitos elogios do seu pai que era pajé.
Os irmãos de Iara tinham muita inveja e resolveram matá-la à
noite, enquanto dormia. Iara, que possuía um ouvido bastante aguçado, os
escutou e os matou.
Com medo da reação de seu pai, Iara fugiu. Seu
pai, o pajé da tribo, realizou uma busca implacável e conseguiu encontrá-la,
como punição pelas mortes a jogou no encontro dos Rios Negro e Solimões, alguns
peixes levaram a moça até a superfície e a transformaram em uma linda sereia.
Seria um tipo de líder na mitologia tupinambá, senhor dos
trovões e tempestades. Em analogia simples, poderia ser comparado ao deus grego
Zeus, ou mesmo ao deus nórdico Thor, pois ele compartilha a mesma explicação
comum nos deuses dos povos antigos para os relâmpagos. Tupã também tem a
característica da onipresença, que é muito comum nas religiões cristãs, judaica
e islâmica. Os jesuítas, na época da colonização, difundiram uma opinião
errônea de que o trovão em sí seria um deus indígena, sendo que na verdade, ele
é apenas a maneira utilizada por Tupã para se expressar.
Jaci
A deusa da Lua e da Noite seria responsável pela magia e
encanto dos homens. Teria sido criada por Tupã para dar beleza à Terra. Irmã de
Iara (deusa dos lagos serenos), Jaci tornou-se esposa do próprio Tupã. Outras
versões da mitologia indígena dizem que Jaci seria esposa e/ou irmã Guaraci, o
deus Sol. Jaci é equivalente a Vishnu
dos hindus e Ísis dos egípcios.
Guaraci (ou Quaraci)
Guaraci é a representação do
deus Sol, responsável pela luz, vida e pureza do planeta Terra, assim como
Brahma (hinduísmo) e Osíris (egípcio).
Yorixiriamori
Esse
deus encantava as mulheres com seu belo canto, o que despertou a inveja dos
homens que tentaram matá-lo. Por isso, ele fugiu para o céu sob a forma de um
pássaro. É um personagem do famoso mito "A árvore cantante", dos
índios Ianomâmis.