Mapa da proposta do corredor AAA (Corredor
Andes-Amazônia-Atlântico). Imagem: Fundação
Gaia Amazonas e gaiafoundation.
Uma grande área de 200 milhões de hectares onde vivem 30
milhões de pessoas, entre seus habitantes 385 povos indígenas, de oito países
sul-americanos. Este é o tamanho do que seria um imenso corredor ecológico
transnacional que ligaria a cordilheira dos Andes, passando pela floresta
amazônica até o oceano Atlântico.
Seria no total, 309 áreas protegidas (957.649 km2) e 1.199
terras indígenas (1.223.997 km2) ligadas pelo imenso corredor. A ideia de criar
o Corredor Andes-Amazônia-Atlântico, também conhecido como triplo A ou,
simplesmente, AAA, está em gestação há alguns anos e tem avançando a passos
largos nos últimos meses.
Com vistas à Conferência do Clima (COP-23),
em novembro, na Alemanha e ao encontro mundial de ministros do meio ambiente
das Nações Unidas, que ocorrerá início de dezembro, no Quênia, alguns países
latino-americanos têm corrido para avançar em propostas mais concretas antes
destes importantes eventos internacionais.
A ideia que ainda gera controvérsia tem feito os olhos de
muitos ambientalistas brilharem, assim como os de gestores políticos que
vislumbram nesta como sendo uma grande contribuição da América Latina para a
conservação da biodiversidade e evitar os impactos drásticos da variação do
clima.
Capitaneada pela Fundação Gaia Amazonas, com sede em Bogotá,
na Colômbia, esta iniciativa sonha em “proteger o contínuo da maior floresta do
mundo no mais importante ecossistema do mundo e combater o maior problema do
mundo, as mudanças climáticas”. É com estas palavras que define o documento de
apresentação do AAA (Corredor Andes-Amazônia-Atlântico) publicado pela
organização colombiana.
Nada acontece sem o Brasil
Dos Andes, incluindo o norte do rio Marañón no Peru,
passando por toda a Amazônia equatoriana, colombiana, o estado do Amazonas na
Venezuela, à porção amazônica da Guiana, Guiana Francesa e Suriname. Todos
estes comporiam o mosaico que uniria áreas protegidas e terras indígenas. Esse
sonho apenas ocorreria se o principal aliado entrasse a bordo, o Brasil. Em
solo brasileiro, o Corredor AAA passaria pelos estados do Amazonas, Roraima e
Amapá.
“O corredor ecológico que estamos propondo existirá só se o
Brasil entrar na iniciativa. Sem o Brasil, seria muito difícil de acontecer”,
disse a ((o))eco
o antropólogo Martin Von Hildebrand, presidente da Fundação
Gaia Amazonas, um dos grandes promotores do AAA.
Um terço da Amazônia brasileira é ocupada por terras
indígenas, um quarto reúne áreas protegidas. “Por que não somar todas estas
áreas e conectá-las em um grande eixo até o Atlântico?” questiona Hildebrand. O
Brasil, segundo ele, nunca pensou em um corredor até os Andes porque “nunca
olhou para além de suas fronteiras”.
Em 2015, durante um encontro com o presidente Juan Manuel
Santos em um sobrevoo pela Amazônia colombiana, Hildebrand indicou no mapa as
diversas áreas protegidas e sugeriu a possibilidade de um corredor. “O
presidente se interessou e toda a ideia deslanchou”, contou.
Mas o porquê de um corredor ecológico
Os corredores ecológicos pretendem unir os fragmentos florestais ou unidades de conservação separados
por interferência humana. O conceito remonta aos anos 90 e tem como objetivo
permitir o livre deslocamento de animais, a dispersão de sementes e o aumento
da cobertura vegetal.
A proposta é “apetitosa”, mas “temos que sentar e discutir”,
admitiu o secretário de Biodiversidade. Para assumir um compromisso
internacional sobre um determinado território implicaria chegar a um consenso
entre governos nacionais, locais e suas populações.
A conectividade entre ecossistemas é o grande tema do
momento. Contudo, a ideia do AAA tem problemas de ordem diplomática e de
formatação, explicou José Pedro. A proposta define uma área específica, mas sem
demonstrar um embasamento científico, na sua avaliação. “Algo imposto de cima
para baixo, como se fosse uma Transamazônica às avessas. Antes, era fazer uma
Transamazônica para desenvolver, agora fazer um corredor para proteger”,
comparou ao destacar a necessidade de construir diálogos de base.
Sob o aspecto técnico, José Pedro sugeriu que o corredor não
acabe nos Andes e que chegue ao Pacífico, cobrindo de ponta a ponta o
continente. “Tem animais que fazem esse percurso subindo a cordilheira até o
outro lado na Colômbia, que é uma das regiões mais úmidas do planeta e não
teria razão de ficar de fora do AAA”, ponderou.
Para incluir territórios indígenas no Brasil, também
precisa-se conversar com a FUNAI que, segundo ele, a princípio teria também
demonstrado interesse em participar. “Em vez de ser por imposição, na nossa
visão, deveria ser por adesão”. Assim, cada país designaria quais áreas
protegidas deveria incluir no corredor. Os estados também deveriam ser
consultados e um grupo de trabalho criado.
Outra preocupação é não deixar a Bolívia de fora. No desenho
inicial proposto pela Gaia Amazonas, a Bolívia não está na rota do corredor. “A
definição desse espaço tão grande e tão tentador à primeira vista pode criar
dissonância”.
Um laboratório continental contra mudanças climáticas
A Colômbia certamente assinaria embaixo um documento
internacional propondo a criação do AAA. Se o Brasil assinar, os outros países
se somariam, calcula Hildebrand. O antropólogo diz ter cautela para não soar
como uma proposta unicamente colombiana, “ela é de todos”. “Não quero que pensem
que é de um só país”.
Ele sai em defesa da continuidade dos ecossistemas. As
razões são básicas: para que a biodiversidade sobreviva, precisa haver um fluxo
genético e, por isso, a conectividade entre áreas protegidas. Além da
manutenção dos serviços ambientais e do ciclo das chuvas.
Em um metro quadrado de floresta, evapora-se sete vezes mais
água que uma mesma área em ambiente marinho. O Corredor AAA pode ser um
laboratório para fazer frente às mudanças climáticas, argumenta.
“Precisamos sentar e
construir em conjunto e que cada país faça a sua proposta a partir de suas
leis”, antecipa Hildebrand. Nos próximos dois anos, ele espera já ser possível
ter acordos assinados e que cada país desenvolva seu próprio plano de ação. Em
um prazo de cinco anos, já se poderia ter projetos sendo colocados em prática
em alguns países.
Uma das formas de financiamento deste grande corredor
poderia vir do Global Environmental Facility (GEF), fundo mundial criado na
Eco-92 para financiar projetos ambientais no mundo, sugeriu o secretário de
Biodiversidade do MMA.
Calha norte do rio Amazonas
Do lado brasileiro, o AAA incluiria toda a calha norte do
rio Amazonas, isto é: 62 UCs (437.015 km2) e 81 terras indígenas (439.189 km2).
Segundo Luís
Donisete, coordenador executivo do Instituto de Pesquisa e Formação
Indígena (Iepé), uma das
organizações da sociedade civil engajada no debate do corredor, o que o AAA põe em pauta é
a perspectiva de ampliar ações de cooperação entre governos e países da Amazônia
em articulação com a sociedade civil. Qualquer temor quanto ao que se receia de
uma possível internacionalização da Amazônia é infundado, argumentou.
“Não há nenhuma intenção de criar uma gestão internacional
da Amazônia ou questionar a soberania dos países. Se propõe ações colaborativas
entre os governos da região que, voluntariamente, congregariam esforços para
manter a floresta e buscar seu desenvolvimento sustentável, respeitando os
povos que lá vivem e buscando a conectividade dos ecossistemas e os serviços
climáticos que esta região presta ao continente americano e ao resto do mundo”,
disse a ((o))eco.
Esta ONG atua há 15 anos no Amapá e norte do Pará e ajudou
na criação, em 2013, do primeiro mosaico de mais de 12 milhões de hectares que
reúne seis UCs e três terras indígenas, a Amazônia Oriental.
Ao conhecer esta experiência no Oeste do Amapá e Norte do
Pará, a colombiana Gaia Amazonas levantou uma perspectiva em maior escala para
se pensar em um novo modelo para a Amazônia que não seja o clássico de
“exploração predatória de recursos naturais”, disse Donisete.
“Vimos que essa ideia tinha potencial”, apesar de vê-la como
visionária. “Não dá para continuarmos trabalhando isoladamente em ilhas”, afirmou.
Fontes: oeco.org, infoamazonia, amazoniasocioambiental, elespectador, latinamericanpost, ecologia-clima, defesanet
Conferência sobre Mudança Climática em Bonn - 17 a 27de junho de 2019
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